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Pesquisa e Sala de Aula: sempre de mãos dadas?

  • Foto do escritor: Daniel Pinheiro
    Daniel Pinheiro
  • 8 de set. de 2021
  • 3 min de leitura


Ao decidir pesquisar sobre a "Vida e o Trabalho" do professor-pesquisador, na minha tese de doutorado na UFSC, mais do que entender uma problemática típica da Sociologia da Ciência, buscava compreender parte da minha trajetória como professor e como pesquisador. Mas, afinal, todo pesquisador, necessariamente, é professor?


Voltemos ao início dos anos 2000. Considerando que vivíamos o final da máxima expansão do ensino superior brasileiro, especialmente com o aumento de vagas nas Universidades públicas e a explosão de Universidades, Faculdades e afins no setor privado, era uma época ainda fértil para quem queria dar aulas. No começo de minha carreira como professor, portanto, encontrei as portas abertas em muitas faculdades - que logo se fechariam.


Pela minha pouca experiência, ainda terminando o mestrado, via boa parte de meus amigos ministrarem um universo de disciplinas. A Administração é assim: permite que, no começo, você seja escolhido pela flexibilidade e capacidade de dar múltiplas aulas. Ali, então, caíam dois mitos à minha frente: o primeiro, o de que todo professor seria pesquisador; o segundo, de que seria possível fazer pesquisa fora da sala de aula.


A minha primeira decepção, talvez, tenha sido a mais cruel. Estudando em universidade pública na graduação e no mestrado, via alguns tipos de professores. Aquele essencialmente ligado à pesquisa, que estruturava o pensamento de uma maneira difícil, complexa e, por vezes, que achávamos distante da realidade. Outros, que de maneira muito clara, tinham o chamado "pé no mercado", e que bradavam lições e ensinamentos de como deveríamos nos comportar, no "mundo real". E, tinha uma terceira figura, daqueles que estavam numa espécie de "limbo" ou "purgatório" da vida acadêmica, que por vezes nos deixavam transparecer o sofrimento de estar ali, por vezes simplesmente ignoravam a nossa existência -e até sua própria.


Este momento me marcou, tanto que no doutorado, quase 10 anos depois, estava lá, pesquisando justamente estas figuras. Apesar de me interessar a figura do professor-pesquisador, aquele quem eu ainda almejava ser, neste meio tempo eu havia transitado pela figura do professor-consultor e até pela espécie, não rara, do professor-taxista (aquele que entra em sala de aula, liga o contador e faz sua "corrida"). Fui todos eles, tive que ser. Questão de sobrevivência. Enquanto me interessava por ser pesquisador, descobria que no Brasil, o mercado pouco - ou nada - se interessa por Doutores. Talvez em algumas engenharias, no ramo teconológico, o título seja, de fato, algo que no mercado gere interesse. Na Administração, são raras as oportunidades fora da academia em que um título de Doutor faça alguma diferença. Lembro que, ainda Mestre, em uma seleção de emprego me perguntaram: "de onde você veio"? Falei: "da academia". Não esqueço o olhar que recebi de volta, mas fiz questão de não me envergonhar por isso, e me orgulhar da trajetória que ainda queria construir.


Infelizmente, foi por isso também que começamos o projeto "Pesquisador Saudável". A trajetória acadêmica deve ser motivo de orgulho, não de angústias e incertezas. Nossos pesquisadores precisam reconhecer suas trajetórias, seus compromissos, mas também precisam garimpar espaços. Precisamos mostrar que os Doutores em Administração podem contribuir muito para o país, dentro ou fora da academia. Deve ser possível o exercício da pesquisa em múltiplos espaços, e não apenas na academia. É preciso amadurecer a nossa forma de reconhecer a importância de um título, tanto quanto os Doutores precisam equilibrar desenvolvimento intelectual e realidade. Mas isso é assunto para um próximo post...

 
 
 

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Professor, Pesquisador, Consultor

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